Publicado em 16.06.2022
Tim Bernardes ilumina belezas da existência em seu segundo disco-solo, Mil Coisas Invisíveis

“É como se eu estivesse lançando um livro”. Essa é uma das maneiras como Tim Bernardes traduz o sentimento a respeito do seu segundo disco-solo, Mil Coisas Invisíveis, que chegou, no dia 14 de junho, aos aplicativos de streaming de áudio (ouça aqui) – pelo Coala Records (selo do Coala Festival) no Brasil e pelo selo americano Psychic Hotline nos demais países. Sucessor do elogiado álbum Recomeçar (2017), indicado ao Grammy Latino e responsável por estabelecer o artista paulistano como um dos principais compositores do país, tendo sido gravado por Gal Costa (no caso, “Realmente Lindo”, canção que integra a tracklist de Mil Coisas Invisíveis) e Maria Bethânia, o novo trabalho evidencia ainda mais o lado autor de Tim. 

Ele iniciou o processo de lançamento de Mil Coisas Invisíveis apresentando quatro singles. “Nascer, Viver, Morrer“, “BB (Garupa de Moto Amarela)“, “Mistificar” e “Última Vez” chegaram como um prefácio capaz de preparar o público para os “capítulos” que viriam a seguir. “Em Recomeçar, eu parti de letras mais íntimas, em que o sentimento aparecia em primeiro plano e, em Mil Coisas Invisíveis, fui para um outro lugar. Tenho a intenção de me comunicar de forma clara, mas isso acontece de uma maneira mais abstrata no momento”, avalia Tim. “Fases“, segunda faixa das 15 que compõem o novo disco, inclusive, faz um bom contraste entre os dois trabalhos. 

Não à toa, o cantor e compositor compara Mil Coisas Invisíveis a um livro. Com muito texto e músicas extensas, o álbum soa como ensaios, colocando o artista em um papel de pensador. “Sem dúvida fui influenciado pelo que gosto de ler, como Jung, misticismo e o que é metafísico. Então encontrei esse lugar de pensar de um jeito mais filosófico, até mesmo sobre a experiência humana”, ele comenta. Algo que se torna perceptível na audição de “Falta” e “Esse Ar“, por exemplo, ou então na viagem sinestésica de “Meus 26“, em que ele cita o título do álbum, cantando: “o mundo tem mil coisas invisíveis / nada é só concreto assim”.

A Balada de Tim Bernardes“, de certa forma, também se conecta com um tipo de literatura. Em seus mais de seis minutos de duração, a música traz o artista não apenas no título, mas como um eu lírico bastante presente na narrativa. Esta é sucedida por “Beleza Eterna“, na qual Zé Ibarra e Dora Morelenbaum participaram dos coros. “Para além do aspecto reflexivo do disco, o lado emocional, com canções de amor, por exemplo, também ganha mais algumas composições em Mil Coisas Invisíveis”, pontua. “Última Vez” apresenta uma crônica de amor protagonizada por um casal; enquanto “Velha Amiga” contempla o amor na perspectiva da saudade. 

Se em “Velha Amiga” a voz e o violão são condutores da sonoridade, em “Olha” o piano surge como protagonista (e não qualquer piano). Todas as vezes que Tim Bernardes esteve na Rádio Eldorado, em São Paulo, ele “namorava” o piano presente na decoração do espaço – o instrumento pertencia ao Estúdio Eldorado e foi usado por Arnaldo Baptista no registro de “Balada do Louco”, em discos de Caetano Veloso e outras produções que marcam música popular brasileira. “Fui até a Eldorado em uma noite, já passava das 22h, e fiquei a madrugada gravando vários takes dessa música, que virou uma baladona sofrida, um power pop”, comenta Tim. Por mais que também seja ao piano (desta vez, não o da Eldorado), “Leve” apresenta uma aura menos densa, mas com um arranjo pouco explorado por Tim até aqui, com uma levada mais rítmica, a presença de baixo acústico, sopros e percussão. “Ela tem uma coisa meio João Donato, que flerta com um jazz quase cubano, só que de um jeito mais Brasil”, avalia.

Mesmo Se Você Não Vê” é a faixa responsável por encerrar o disco e, de forma simples, sintetiza pensamentos e constatações, como “as ondas seguem indo e vindo mesmo se você não vê”. Gravado entre o Estúdio Canoa e a casa de Tim Bernardes em 2021, Mil Coisas Invisíveis teve a mixagem e a masterização aos cuidados de Tim e de Gui Jesus Toledo (ele foi responsável ainda pela engenharia de som do álbum), respectivamente. Ao longo das 15 faixas de Mil Coisas Invisíveis, Tim Bernardes percorre por caminhos nem sempre concretos, ora cruzando a linha do inconsciente, mas sempre buscando um equilíbrio entre os assuntos e as nuances sonoras, que alcançam uma beleza contemplativa para os seus ouvintes-leitores.

Hoje, foi divulgado o clipe de “Nascer, Viver, Morrer”, música apresentada como primeiro single do novo trabalho. O audiovisual mostra um piano ardendo em chamas, que pode ser visto como símbolo do encerramento de uma fase iniciada em Recomeçar (cujo clipe homônimo mostra o músico desmontando o mesmo instrumento). Ainda durante o mês de junho, Tim Bernardes irá embarcar rumo aos Estados Unidos, onde fará parte da turnê do grupo Fleet Foxes pela Costa Oeste norte-americana, fazendo o show de abertura de 17 datas. Ele retorna ao Brasil no segundo semestre, quando dá início às apresentações de lançamento do disco por aqui e, depois, segue para a Europa.

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