Um filme para quem tem coração forte, veja a review do CineDerick (sem spoilers)
O Telefone Preto, novo filme de Scott Derrickson (Doutor Estranho, A Entidade, O Exorcismo de Emily Rose) parte de um medo tão primal e básico para entregar um festival de tensão acumulada, que explode em seu ato final com todo o surto que se espera de um filme de terror – e de uma forma muito charmosa, diga-se de passagem, que até lembra os grandes thrillers da década de 90.
A trama é simples e o filme não tenta desviar do percurso, indo bem direto ao ponto: Finney é um jovem garoto que vive com sua irmã, Gwen, e seu pai abusivo. Na sua vizinhança, vários garotos têm desaparecido nos últimos dias, vítimas do Sequestrador (como a mídia o apelidou). Eventualmente, Finney acaba sendo pego pelo assassino e precisa encontrar uma forma de fugir – ele só não esperava que iria contar com a ajuda das vítimas de seu captor.
A trama, escrita por Derrickson ao lado de seu maior colaborador, C. Robert Cargill (A Entidade, No Man of God, Doutor Estranho) é baseada em um conto homônimo de Joe Hill, e talvez seja o melhor caso de uma adaptação do autor para as telas, após obras um tanto quanto questionáveis como Amaldiçoado, de 2013 – o filme com o Daniel Radcliffe chifrudo – e a série NOS4A2 – que traz um igualmente bizarro Zachary Quinto como Nosferatu.
Derrickson aqui tenta “emular” um pouco do que fez anteriormente em A Entidade, de 2012, ao menos no que diz respeito à estética e à tensão. Ele até consegue inserir alguns elementos bem identificáveis do seu projeto anterior, como fitas de vídeo caseiro, jump scares milimetricamente arquitetados para te dar o susto da sua vida e, é claro, a colaboração sempre bem-vinda de Ethan Hawke.
Ainda que seja o último nome listado nos créditos do filme, ele é quem dá alma ao negócio. Embora nunca saibamos muito sobre seu personagem, suas motivações ou até mesmo a forma como ele interage com outras pessoas, o que definitivamente temos é um vilão tenebroso, daqueles que nos fazem cobrir o rosto e dar gritinhos finos toda vez que entra em cena. E tudo isso sem nenhum recurso além de uma boa atuação e um conjunto de máscaras aterrorizantes.
Hawke brilha durante boa parte do filme, e é muito interessante como sua presença é demarcada mesmo quando ele não está na cena. Desde o começo, ouvimos sobre o Sequestrador como uma lenda urbana, um conto de advertência para que crianças não se deixem ser seduzidas por estranhos. Depois, quando somos transportados para o porão do assassino, ele mostra sua imponência e perversidade a todos os momentos – mesmo quando não aparece fisicamente.
Aliás, é impressionante como Derrickson aqui consegue socar uma miríade de referências sem perder o garbo. Por exemplo, em sua primeira aparição – onde sequestra Finney -, o vilão vivido por Hawke possui um visual que remete diretamente ao personagem de Lon Chaney em London After Midnight, um filme perdido de 1927 que já virou uma lenda urbana, um mito homérico entre os fãs do cinema de horror.
Um filme pra quem tem o coração forte | Nota 10
Por Cinederick
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