Disco chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, 12 de maio, com nove músicas inéditas que abordam dilemas sociais e expandem influências do rock
Em mais de vinte anos de carreira, o músico mineiro Rubah se dedicou a destrinchar em suas composições as distintas origens do rock n’ roll. Sem deixar de lado a marca dos inervados riffs de guitarra que permeiam suas músicas, o disco “Origem” chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, dia 12 de maio.
Também lançado em formato de CD e vinil, o álbum apresenta uma apurada pesquisa das influências do rock, como o blues, o jazz, a música africana e a música popular brasileira, em um conjunto de pesadas harmonias que abordam desde as clássicas atitudes punk do gênero até influências mais improváveis, como a infância, a expectativa da criação dos filhos e o medo da solidão e da morte.
Rubah é um bluesman conhecido por sua expressão roqueira do interior de Minas Gerais, distante da pasteurização que o gênero muitas vezes encontra na produção urbana do eixo Rio-São Paulo. Isso porque suas letras se mantêm fiéis aos históricos e persistentes dilemas sociais denunciados pelo rock e pelo movimento punk. “Origem” conserva essa atmosfera e chega ao público após Rubah lançar dois EPs durante a pandemia, “Encruzilhada” (2020) e “Liberdad” (2021), que expõem parte das angústias humanas relacionadas às privações de liberdade — fruto da maior crise sanitária deste século.
Nesse sentido, “Origem” está diretamente conectado às vivências de Rubah nos últimos anos – para além da pandemia – mas também em relação às suas pesquisas e descobertas sonoras para compor um álbum plural, sem perder a linha rock n’ roll. Em um trabalho maturado por quase dois anos, o músico se abriu às audições de jazz, aproveitou incursões em Buenos Aires para respirar novidades do rock argentino e também se permitiu criar o hábito de ouvir rádio diariamente, sendo levado pelas influências radiofônicas mais diversas, de Milton Nascimento a Sonic Youth.
“Comecei a escutar música com mais atenção. Coisas que ouvia no carro, na academia, fui sentar para ouvir em casa. Fiquei muito tempo na rotina de acordar e ouvir rádio, uma coisa que os jovens estão desabituados: deixar que alguém escolha o que você vai ouvir parece loucura hoje em dia. Junto com tudo isso, fui inserindo o blues, o jazz, um pouco de country, a estética afro-futurista, e fui encontrando a musicalidade do disco a partir de referências que eu sempre estive conectado, que também conversam com o rock de alguma forma, e consegui organizar agora em disco”, explica Rubah.
Processo de gravação
Em um processo bastante pessoal, “Origem” também reflete as próprias raízes de Rubah como artista. Por isso, ele liderou todas as etapas do álbum, desde as concepções estéticas que envolvem arranjos e videoclipes até a mixagem e a masterização. “O disco tem uma questão muito forte com a origem do meu trabalho, que envolve fazer de tudo um pouco. Por isso, assumi a composição, os arranjos, que são mais elaborados e complexos, e a fase de gravação. Até na masterização interferi um pouco”, diz o músico.
O álbum foi inteiramente gravado no estúdio Full Time, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, onde nomes como Milton Nascimento e Djavan também registraram suas canções. A masterização foi realizada em Barcelona, na Espanha, por Fernando Delgado, que assina produções de Djonga, Baianasystem, Francisco el Hombre e Zeca Baleiro. A produção é toda de Rubah, incluindo os arranjos encorpados, principalmente as criações de cordas. Em estúdio, as gravações ficaram a cargo da azeitada banda que acompanha Rubah (guitarra e voz), incluindo Cazão Drum (bateria), Hiago Fernandes (baixo) e Rone DMZ (guitarra solo), que também assina parte dos arranjos de guitarra do disco.
“A experiência de gravação no estúdio Full Time me permitiu conhecer o Fabiano, um cara jovem, e um profissional muito antenado. Convidei ele para mixar junto comigo, somando com minhas ideias, deixando eu interferir. Através do Fabiano, conheci o Fernando Delgado, que me impressionou pela linguagem da produção musical, muito pouco de rock, mas muito de música brasileira, o que deu uma cara moderna ao disco”, destrincha Rubah.
“Origem” verve em alto e bom som nove pedradas inéditas, aceleradas por guitarras distorcidas e linhas de baixo bem densas, conduzidas por variações de hard core, punk, noise rock, grunge, mas não apenas os subgêneros tão diretos do rock. O single “Quarantine” (veja o clipe), abraçado por riffs do bom e velho rock n’ roll, aborda a impossibilidade de mudar um cenário resumido pelo verso repetido: “tudo fechado / todo mundo cansado”, em alusão às incertezas do início da pandemia. Já em “Dinossauro” (veja o clipe), descrita por Rubah como “a música mais pesada que já fiz”, as guitarras se mantém em alta, com expressivos solos de Rone DMZ, criando um ambiente fértil para Rubah cantar sobre a necessidade de superar mentalidades conservadoras do passado.
Aos poucos, o álbum abre outras raízes familiares ao rock. Em “Amour”, a canção mais sensível do disco, cantada em parte na língua crioula e também em francês haitiano, há uma nítida reverência à música africana, aliada a uma amarga harmonia de blues. Expandindo as referências, “Jazz” (veja o clipe) homenageia o virtuoso e dançante gênero originário de News Orleans (EUA), com uma bateria salpicada envolvente, enquanto versa sobre a vivência de trabalhadores comuns, alinhada à realidade dos músicos negros pioneiros do jazz americano: “na boca um café amargo, cachaça e menta, atormenta / mais um dia vendido barato e eu não trago, o fardo”.
Todos os clipes do disco, lançados como aperitivos do álbum completo, têm produção visual de Emanuel Kaauara e fotografia de Renata Milard. As imagens oferecem uma variedade estética congruente com a diversidade sonora do disco. Desde o clima de clube jazzístico dos anos 1950 criado nas gravações de “Jazz”, na qual Rubah canta de terno e cabelo alinhado; passando pela aura sombria das gravações de “Quarentine”, quando o músico surge em visual gótico, acompanhado de fortes cenas hospitalares associadas à realidade desesperadora da pandemia; até os registros familiares que ilustram “Ana Laura” (veja o clipe), com imagens caseiras da filha de Rubah, de apenas sete anos, e referências lúdicas do universo dos super-heróis de HQ’s.