Caminhos, escolhas, o que ficou para trás, o que há de ser vivido, dúvidas, certezas, culpa, são muitas das reflexões contidas em 10 faixas no primeiro álbum solo de tiago arrais. Disponível em todas as plataformas de áudio, “a trilha de volta” reúne canções autobiográficas acerca da família, da passagem do tempo, e da tensão inexorável entre memória e esquecimento.
Gravado em Nashville e Santa Fe, nos Estados Unidos, o disco conta com produção de BÆRD e carrega uma sonoridade peculiar, raramente encontrada em projetos nacionais conhecidos.
“…o disco ‘a trilha de volta’ é uma homenagem para minha família, e ao mesmo tempo, é um disco que marca o momento que estou vivendo. Ao colhermos os efeitos de uma pandemia, de um caos político e social, creio que minha família e a sociedade como um todo precisa relembrar cada vez mais aquilo que realmente importa na vida: pessoas”, explica tiago.
Que segue: “todos estamos experienciando cada vez mais uma mistura de sentimentos, de caos, de frustração, de falta de esperança, de desânimo. Eu acho que lembrar das coisas que importam, nossos afetos, nossos relacionamentos, nossas raízes, é muito importante nessa fase para todo mundo. O disco fala sobre isso, sobre memória, sobre esquecimento, sobre diferentes maneiras de articular sentimentos verdadeiros dentro de relacionamentos em família, com nossos amigos, com colegas de trabalho. O objetivo é buscar cada vez mais espaço para vulnerabilidade, abertura, honestidade em todas essas relações”.
Juntamente com o disco, que já teve duas faixas lançadas – “parte”, canção que traz a mensagem de um amor sincero, com seus altos e baixos, sendo uma carta aberta para sua esposa; e “sinais” que fala sobre todos os sentimentos referentes ao tempo, o que já passou e o que está por vir –, tiago disponibiliza o clipe de “a grande beleza”.
Sobre a faixa em questão, tiago conta: “O disco como um todo é uma celebração da vida como ela é, a simplicidade que experienciamos no dia a dia. E ‘a grande beleza’ é uma das músicas que comunica bem isso. Em uma sociedade que busca objetivos específicos, um trabalho bom, prosperidade financeira, poder aquisitivo, a música sugere que o ápice da vida já acontece diariamente, seja na mesa da cozinha, no quintal de casa, quando a gente vai dar um beijo para dormir nos nossos filhos, quando eles dão risada… pra mim essa é a grande beleza da vida e não as coisas materiais e superficiais que a gente, às vezes, acaba buscando mais que essas outras coisas mais singelas que já temos.”
Em “a trilha de volta” tiago consegue falar de sua vida, mas se relacionar com a vida de todos, entregando sentimentos, relações e memórias, que de alguma forma vão encontrar sentido no coração de quem ouve. No repertório há canções para o pai, a mãe, a esposa, os dois filhos e o irmão.
“O álbum começa com uma canção chamada ‘mesa’ e, de certa forma, é exatamente o que faço: coloco todos à mesa e escrevo uma canção para cada um”, explica o artista. Um trecho da letra diz: “ponho a mesa do jantar, a toalha de renda, como antes, como era, como na memória…”. “De alguma maneira, esse é um álbum terapêutico. Revisitei memórias, imagens, revi lições. Acessei tudo outra vez e tentei lidar com os erros, os acertos e os episódios que me inspiraram e que mexeram comigo, mas que nunca parei para lidar com eles”, confessa.
“Comecei a escrever as canções na época em que meu avô morreu. Ele foi a primeira pessoa próxima que perdi em toda a minha vida, notei que nos dias que se seguiram, o que eu mais sentia falta era de sua voz. Pensava em como ninguém, nunca mais, me chamaria pelo nome como ele me chamava… e acho que de alguma maneira eu queria que minha família ouvisse a minha voz cantando pra eles, queria criar um registro disso”, revive tiago.