Publicado em 03.08.2023
Realidade Virtual e Cinema: Brasil no Festival de Veneza

Obra LGBTQIA+ brasileira “Finally Me (Finalmente Eu)” compete na Mostra Imersiva da 80ª Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica

A experiência imersiva em realidade virtual “Finally Me (Finalmente Eu)” (Brasil, 2023) compete no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Apenas duas obras brasileiras disputam o Leão de Ouro esse ano: o filme co-produzido por Kleber Mendonça Filho “Sem Coração”, que compete na mostra competitiva Orizzonti, e “Finally Me” na mostra imersiva.

O GLOBO entrevistou o cineasta nesta quarta-feira e falou sobre as perspectivas do mercado de realidade virtual e audiovisual: “Para assistir ao trabalho do carioca Sal, é preciso estar munido de óculos especiais como o Meta Quest 2, modelo que é um dos líderes do mercado e com o modelo nº 3 a caminho, disponível em outubro. A partir de janeiro, porém, ele ganhará um concorrente e tanto, o Apple Vision Pro, da famosa fabricante de computadores, celulares e gadgets criada por Steve Jobs. A entrada da companhia na seara da chamada realidade estendida, que engloba a RV, é um dos fatores que estão levando a uma nova fase neste mundo da imersão: uma certa corrida entre criadores de audiovisual para ter conteúdo disponível para quem estiver disposto a mergulhar de corpo e alma nele.”

Segundo o diretor, Marcio Sal, “Finalmente Eu” é uma experiência que estimula o indivíduo a abraçar sua singularidade e se expressar plenamente: “Nossa sociedade é muito cruel com as minorias. Comigo, como gay, não foi diferente e inúmeras vezes me senti constrangido pelos outros. Assim como o Seu Saul, que tem um chifre de unicórnio oculto sob o chapéu, cheguei a me esconder a ponto quase deixar de existir. De certa forma, a jornada do personagem é a transformação pela qual passei e acredito que outras pessoas poderão se identificar.”

Para Marcio, usar a pintura à mão na construção da estética da experiência foi bastante importante: “Queria receber o espectador em um ambiente aconchegante para viver essa história tratada com tanta delicadeza. Além disso acredito que essa abordagem artística surpreende, pois contrasta com o ambiente high tech da Realidade Virtual. É como se o usuário mergulhasse em uma tela a óleo“.

FINALLY ME (FINALMENTE EU) – Official Trailer from IDEOgraph on Vimeo.

A experiência foi desenvolvida durante o período de lockdown, quando a sensação de confinamento estava no auge: “Senti liberdade quando coloquei um óculos VR e comecei a desenhar em um ateliê virtual. Então pensei que podia amplificar as emoções por meio dessa arte imersiva e tocar as pessoas com assuntos profundos. Foi quando o mundo do Seu Saul me veio à mente.”

Ainda segundo o diretor, o projeto é uma homenagem ao Carnaval: “Busquei trazer a carnavalização como motor libertador da história. O carnaval pós-covid de 2022 tem uma semelhança com o que aconteceu após a gripe espanhola em 1919, uma espécie de demanda que estava reprimida. Por isso ambos são trazidos na experiência como veículos da libertação de Seu Saul”

Felipe Haurelhuk, um dos produtores do filme, reforça a mensagem da obra através da reação dos usuários: “A experiência imersiva em VR funciona como uma ferramenta tecnológica ainda mais marcante porque potencializa a criatividade e a visão de mundo de qualquer artista. É emocionante ver as possibilidades que esse novo campo abre para o futuro da narrativa audiovisual”.

Eduardo Calvet, o terceiro sócio da IDEOgraph, acrescenta: “Em nossa produtora, pretendemos combinar inovação com narrativa poderosa. Nossos projetos anteriores incluíram um documentário imersivo sobre um palácio de cinema perdido, mergulhado no declínio dos cinemas de rua. ‘Finalmente Eu’ explora temas de abandono e a essência da liberdade em sua forma mais expansiva”.

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