Publicado em 12.09.2023
Oscars 2024: Filme brasileiro anunciado nesta terça se junta ao doc “Incompatível com a Vida”

Filme de Eliza Capai fala sobre mulheres que enfrentam o luto gestacional e neonatal. No Brasil, pela primeira vez, STF votará projeto destinado a descriminalizar o aborto

A Academia Brasileira de Cinema divulga hoje o longa-metragem que irá representar o país no Oscar 2024 na Categoria de Melhor Filme Internacional. O candidato se junta ao grupo de filmes brasileiros de outras categorias, que já está qualificado para competir por uma indicação. É o caso do longa documentário “Incompatível com a vida”, da diretora Eliza Capai, que concorre na categoria de melhor documentário.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelo evento, permite apenas a um grupo seleto de filmes participar da corrida. Na categoria de Melhor Filme Internacional, por exemplo, cada país seleciona o seu candidato. Nas demais categorias, há uma série de regras que tornam a entrada na competição às vezes pouco acessível para produções brasileiras: o filme deve ser exibido publicamente com entrada paga em um cinema comercial em uma das seis áreas metropolitanas dos EUA: Los Angeles, Nova York, São Francisco, Chicago, Miami ou Atlanta por pelo menos sete dias consecutivos com pelo menos uma exibição por dia.

A exceção fica por conta de filmes vencedores de uma lista também seleta de festivais competitivos ao redor do mundo, em uma busca por diversificar e internacionalizar os concorrentes. No Brasil, os festivais que permitem essa qualificação para o Oscar são o festival Internacional É Tudo Verdade nas categorias de Documentário Longa e Curta-Metragem, o festival Anima Mundi nas categorias de Animação, e o Festival Curta Cinema na categoria de Curta-Metragem em Live Action. Filmes brasileiros que venceram festivais qualificáveis fora do país também podem entrar na disputa. A lista com todos os concorrentes deve ser anunciada em novembro.

“Incompatível com a Vida” venceu o prêmio de melhor filme no É Tudo Verdade, em abril deste ano e, com isso, já se qualificou para o Oscar 2024. O filme é o único longa-metragem brasileiro selecionado para o prestigiado FallDocs, série de curadoria da International Documentary Association (IDA) que exibe os 30 melhores filmes do ano que disputam o Oscar. No Brasil, o filme será exibido durante o Festival do Rio, em outubro, e estreia nos cinemas em novembro.

A diretora Eliza Capai, conhecida pelo premiado documentário “Espero tua (re)volta” e a série do Netflix “Elize Matsunaga: Era uma vez um crime”, captura com sensibilidade o luto de um filho que não chegou a nascer. Eliza registra intimimante sua própria jornada ao passar por um procedimento de interrupção médica da gravidez em Portugal, onde o aborto é legal, após o diagnóstico de que seu feto tinha uma malformação incompatível com a vida. Em seguida, ela muda seu foco para o Brasil, onde o aborto é criminalizado, buscando mulheres que a partir do mesmo diagnóstico, tiveram diferentes experiências: metade delas juducializou o pedido de aborto, enquanto a outra metade deu a luz a bebês que morreram no mesmo dia. Todas têm em comum, entretanto, o luto solitário e traumas do sistema de saúde. Através de entrevistas íntimas e poderosas, o filme tece um comovente coro de vozes de mulheres que refletem sobre maternidade, vida e morte.

Este filme é uma tentativa de oferecer um espelho para as tantas mulheres e casais que enfrentam de forma solitária as profundezas do luto gestacional e neonatal”, diz Eliza. “Ao nos expor e unir nossas histórias, o filme propõe inspirar um diálogo qualificado sobre sistemas de saúde, leis e redes de apoio. Acredito que a arte tem o poder de criar empatia e contribuir para a cura e a transformação das feridas sociais.

No Brasil, o aborto é considerado crime, passível de prisão para as mulheres. A lei restritiva permite o aborto legal apenas em casos que coloquem em perigo a vida da mãe, resultem de estupro ou no caso de feto ser anencéfalo. Tragicamente, estima-se que meio milhão de abortos clandestinos ocorram no Brasil anualmente, levando a números alarmantes: a cada dois dias, uma dessas mulheres morre de complicações.

Uma década após descriminalizar o aborto de fetos anencéfalos, o Supremo Tribunal Federal pode estar prestes a voltar a analisar o tema. A ADPF 442 pretende descriminalizar o aborto voluntário até o terceiro mês. A ministra Rosa Weber, presidente da Corte e relatora do caso, já manifestou a intenção de pautar o processo antes da aposentadoria, ainda neste ano de 2023.

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