Esta semana o Club de Regatas Vasco da Gama assinou junto ao Ministério Público um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e (mesmo sem restar alternativas) simbolicamente foi uma grande perda para o clube e para a sociedade.
Para entender a situação é preciso esclarecer o que é o TAC. Segundo o site do Ministério Público Federal o Termo de Ajustamento de Contuda (TAC) é um instrumento que “tem a finalidade de impedir a continuidade da situação de ilegalidade, reparar o dano ao direito coletivo e evitar a ação judicial”.
Agora precisamos voltar no tempo, o correto mesmo deveria ser retornar ao ano de 1898, ano de fundação do clube, parar no ano de 1924 para falar da Resposta Histórica e então chegar ao dia 22 de junho desse ano. Dia em que o Vasco perdeu para o Goiás em São Januário.
Nessa data todo vascaíno e boa parte dos não vascaínos sabiam que um resultado ruim poderia gerar tumulto, tanto que foi pedido reforço da segurança no estádio e arredores. Para deixar a situação mais exaltada a diretoria do Vasco SAF achou de bom tom emitir uma nota em defesa do antigo CEO da empresa, um indivíduo detestado por 11 em cada 10 vascaínos. Por sinal, a nota não só defendia o rapaz como ainda desqualificava quem o questionasse.
Barril de pólvora pronto e fósforo riscado aos 73 minutos da partida com o gol do Goiás. No final da partida rojões jogados no gramado e do lado de fora, tumulto. Tumulto com direito a correria, torcida forçando portão de estádio e polícia atirando na direção de torcedores.
Dito isto, nada justifica o que foi feito com o Vasco posteriormente.
O Tribunal de Justiça Desportiva aplicou a multa: o time deveria jogar algumas partidas sem torcida e pronto. Mas o Juizado Especial do Torcedor e o Ministério Público acharam insuficiente e proibiram que o Vasco jogasse com a presença da torcida em seu estádio.
Após a partida o juiz de plantão do Juizado Especial solicitou a apuração do MP, e transcrevo as palavras dele: “Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio”
Com a devida vênia nota-se que o magistrado não tem o hábito de assistir partidas de futebol em estádio uma vez que o choca saber que pessoas bebem antes dos jogos. Contudo, o mais alarmante não é isso, mas sim dizer que não é possível ter jogo devido a presença da Barreira do Vasco e a associação direta com o tráfico de drogas e violência armada.
Onde no Rio de Janeiro hoje não tem comunidade? Neste ritmo o desfile das escolas de samba não ocorrerá mais no Rio de Janeiro. A relação direta da presença da comunidade com os “estampidos” não encontra respaldo a não ser no preconceito, uma vez que estudo realizado demonstra que neste ano o número de disparos na região da Barreira é o mesmo que o da região do Estádio do Maracanã e lá os jogos continuam. Mesmo após um torcedor ser baleado dentro do estádio.
Outro magistrado considerou “mimimi” a repercussão dada ao caso. Um “mimimi” de redução 60% da renda dos moradores da região que conseguem seu sustento através das partidas que ocorrem no estádio.
Para completar, segundo o site GE, no dia 30 de agosto (a partida foi em junho) na abertura do julgamento do recurso, o excelentíssimo desembargador relacionou a Barreira do Vasco com a Cracolândia. Preciso dizer qual foi o resultado do recurso?
O Vasco se manifestou sobre a decisão, a Prefeitura se manifestou, Comissão da Alerj se manifestou, a imprensa se manifestou, o Governador se manifestou, a Ministra se manifestou e a verdade é que nada disso resolveu o problema.
O Vasco só poderá ter a sua torcida novamente no estádio por ter se comprometido a assumir uma série de regras imposta apenas a ele.
É importante que isso fique claro, não foi o apelo popular e político ou o bom senso que prevaleceram na situação, mas o Vasco aceitar as medidas. Não havia o que mais poderia ser feito, era assinar para poder ter a torcida perto fisicamente o menos devagar possível. As opiniões e visões problemáticas, para dizer o mínimo, prevaleceram.
A ideia de que todo local de comunidade é um risco, de que a população dessas comunidades ou ainda que a festa popular são associações diretas com a violência e o crime prevaleceram e por isso não apenas o Vasco perdeu, mas toda a sociedade. Escrevemos no começo do texto que o ideal seria voltar aos anos de 1898 e 1924 para entender a situação, mas talvez não tenhamos saído de lá até hoje e a nova Resposta Histórica tenha ocorrido no dia 03 de setembro deste ano, quando torcedores do Vasco se reuniram na Barreira do Vasco para celebrarem ser o Vasco da Gama, o legítimo clube do povo.
A foto no começo do texto é do perfil @garotadasfotos_.
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