Publicado em 16.01.2023
Gloria Morena e a idade irreverente

Com músicas produzidas pelo grupo Luísa e os Alquimistas, e agora descoberta pelas pick ups de casas noturnas no circuito alternativo de São Paulo, Glória Morena tem expandido suas músicas para além de seus cadernos e terras potiguares, e conquistado instantaneamente o público que a ouve e conhece. Isso porque o charme de sua obra não se atém apenas à sua musicalidade, mas muito no que Glória se propõe a cantar, e isso sem a menor pretensão, o que nos faz deparar com algo bastante autêntico.  Mesmo sendo uma recente revelação, Glória tem uma trajetória artística de longa data, ainda que tímida, escrita por suas composições.

Produzida por artistas da cena de Natal, Glória Morena é compositora e nunca chegou a dar as caras antes de ser gravada, assim como também nunca pensou em cantar. Apenas passou a considerar essa possibilidade quando percebeu que esse era um jeito de suas composições serem notadas.

Glória Morena é uma dessas histórias legais da música, que, ao vir à tona, pensamos quantos não são os talentos escondidos por aí. Glória nasceu em Natal, em 1962, num lar residido apenas por mulheres, no qual foi incentivada à leitura desde nova por sua família. Por ter adquirido o hábito da leitura, Glória começou a escrever suas próprias histórias. Eram poesias de criança que fazia para as professoras e também para apresentar em eventos na escola.

Com o passar da idade, sua escrita foi amadurecendo, sua leitura passou por alguns clássicos como Cecília Meireles e Machado de Assis, seguindo esse caminho, decidiu cursar Letras e se tornou professora, sua profissão atual.

Glória Morena compõe, mas não toca nenhum instrumento, o que é até bem comum na música.  Ela tem grande parte de suas composições musicadas mentalmente e cria suas melodias no momento em que pensa suas letras. Disse já ter acordado com três músicas prontas na cabeça e que no total tem cerca de 200 composições.

Um dos aspectos marcantes de suas músicas seguem uma moda antiga da nossa cultura, um pouco das tradicionais marchinhas e suas letras cheias de luxúria e ambigüidade. Quanto ao duplo sentido que canta, Glória Morena diz que vê de outro jeito:

Não sei se minhas músicas têm duplo sentido. Sou muito romântica e gosto muito de falar de amor. Sempre gostei muito das músicas de Roberto, do Wando, do Elymar Santos. Gostava muito da maneira como eles falam do amor, com sensualidade. Sempre gostei desse estilo de música, mas quando comecei a escrever minhas poesias já tinha esse lado aí. Pode chamar de duplo sentido, mas eu chamo de apaixonadas. Quando comecei a fazer música também, foi por esse lado. E esse é um aspecto pelo qual as pessoas se identificam.”

‘Pássaro Moreno’ foi um forró escrito na década de 90, e trinta anos depois foi gravada por Hélia Braga para participar do Festival da Verdade em Natal. ‘Chegou Sua Vez’ segue na linha do sertanejo e foi gravado pela dupla Tina e Neto.

Em 2020, Glória Morena foi apresentada à Luísa Nascim, do grupo Luísa E Os Alquimistas, e o pessoal que trabalha com a banda. Juntos, decidiram produzir três faixas, sendo elas: “Gato Guloso”, “Vou Te Pegar no Carnaval” e “Chapeuzinho Vermelho”. As músicas seguem uma linha carnavalesca e futurista, acentuada por elementos eletrônicos de sintetizadores e um potente instrumental. Essa sonoridade moderna imediatamente a transportou a um público ávido por novidades legítimas, à novidades que extrapolem um certo padrão e desafiem um senso comum.

O entusiasmo com a figura de Glória foi tanto, que a prestigiada produtora Malka Julieta acabou gravando um álbum com ela, no total de sete faixas, que transitam entre o pop, o piseiro, o funk e o rock. Todas com a marca registrada das divertidas letras de Glória Morena e a apurada produção de Malka Julieta. O EP está pronto, mas ainda não está disponível.

Contanto, ‘Chapeuzinho Vermelho’, ‘Gato Guloso’ e ‘Vou Te Pegar no Carnaval’ que promete ser o hit dos bloquinhos, já podem ser conferidas nas principais plataformas.

Post arquivado em Música Brasileira, Notícias