Mulheres diagnosticadas com câncer têm maior chance de serem abandonadas por seus companheiros do que homens. Por que isso acontece?
Preta Gil, 49, é uma cantora, atriz, apresentadora, e empresária brasileira, sendo a fundadora e sócia-diretora da maior agência de cultura digital do país, Music2 Mynd. Uma mulher que exala poder, mas que ainda assim, foi refém de um sistema patriarcal.
No dia 16/10 (segunda-feira), Preta participou do programa De Frente com Blogueirinha. Na entrevista, ela compartilhou sobre sua saga de separação e a descoberta de traição do exmarido, Rodrigo Godoy, com sua ex-estilista, Ingrid Lima. A cantora detalhou que foi traída por um período de 7 meses, e que inicialmente, não desconfiava de nada. Contudo, ela relata que a parte mais grave foi o abandono devido ao diagnóstico de câncer.
“Ele não cuidou de mim. Eu descobri o diagnóstico em janeiro, eu me separei dele antes de descobrir a traição. Ele me abandonou com câncer, ele literalmente me abandonou. Ele saía, me largava em casa jogada”, contou.
A história de Preta faz parte de uma estatística alarmante.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, 70% das mulheres diagnosticadas com câncer são abandonadas por seus parceiros durante o tratamento da doença. Outro estudo, desta vez realizado pelas universidades de Stanford, Utah e pelo Centro de Pesquisa de Seattle Cancer Care Alliance, mulheres têm um risco 6 vezes maior de lidar com o abandono de seus parceiros ao descobrir uma doença grave.
Estes dados revelam a posição hierárquica que a mulher é posta em um sistema patriarcal. Historicamente, as mulheres foram colocadas para serem as cuidadoras e protetoras do lar, ou seja, elas foram forçadas a ficarem em casa, cuidando dos afazeres domésticos, e cumprindo os desejos de seus maridos, quaisquer que sejam.
Hoje em dia, ainda há resquícios desse pensamento em nossa sociedade, mesmo que o cenário seja outro. E quando adicionamos a questão de saúde, fica mais evidente a visão que a maioria dos homens têm de suas parceiras.
O Hospital do Câncer de Barretos (SP) divulgou uma pesquisa, realizada em 2015, que também mostrou que 40% das mulheres que faziam quimioterapia ou radioterapia tiveram que lidar com a rejeição de seus companheiros.
Uma vez que as mulheres, sob um olhar do patriarcado, servem para cuidar, limpar, e saciar desejos do sexo masculino, no momento em que elas estão fragilizadas pela doença e não conseguem atender esses pontos, os homens não vêem mais “utilidade” em suas parceiras.
É necessário ressaltar que o apoio de pessoas próximas é crucial para o paciente, seja ele quem for, em um tratamento de qualquer doença grave. Assim, o ato de abandonar alguém próximo em um momento como este é cruel, e nada menos que isto.
Por Davi Ribeiro